Ela poderia querer muitas coisas. Desejar ser muita gente
diferente. Veja bem, em um florescer, numa tarde de primavera, ela poderia
querer ser uma libélula e viver por vinte e quatro horas achando que seria para
sempre. Seria feliz.
Ia ser legal ser o filho de Deus, ou sonhar em ser artista,
pintor de obras renomadas. Quem sabe até um filósofo? Poderia ser risonha.
Dançarina. Já pensou? Mostrar a alma em movimento para uma multidão? Seria
demais! Seria feliz.
Ah, aquela mulher poderia querer ser a secretária de um
executivo charmoso, assim, poderia querer ser sedutora. Ou talvez o contrário.
Quem falou que ela não poderia ser uma santa? Ou poderia sonhar em se tornar a
rainha dos baixinhos. Ou a diva do carnaval. Seria feliz.
Não sei. É que eu estava aqui olhando, e pensando que aquela
mulher poderia ser tanta coisa. Ela poderia querer ser rica, ou ser a mendiga
que não percebe que está incomodando. Poderia ser maníaca por sexo. Ou poderia
querer passar a vida querendo manter a virgindade. Ela poderia ser contadora de
piadas, cantora de boteco, motorista de moto-táxi. E ganharia dinheiro. Seria
feliz.
Olha, ela poderia mesmo ser atriz, modelo. Mas também,
poderia querer ser revolucionária, profissional do mês, ou a babá daquela
criança linda de cabelo enroladinho. Poderia querer ser índia. Andar por aí
nua, imagina a sensação? Imagina que delícia se ela pudesse sair por aí nua? Seria
feliz.
E tem outra coisa! Como já disse, ela poderia ser feliz
demais, sorridente demais. Mas, aconteceu um engano! É, ela não quis nada
disso. Veja só o que aconteceu... Dentre tudo isso que ela poderia querer ser,
dentre todas as opções, ela escolheu ser amada, e não foi. É. Não foi amada,
não teve sinceridade, não recebeu o carinho que desejou receber. Não conseguiu
engolir o choro. Não conseguiu cumprir o “nunca mais” que repetiu, para si
mesma, bem baixinho, enquanto a garganta doía de raiva. E sabe o que aconteceu?
Justo ela, que seria feliz, não foi feliz, não. Por que escolheu errado. Que
ironia né?
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