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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Sobre aquela mulher que observei


Ela poderia querer muitas coisas. Desejar ser muita gente diferente. Veja bem, em um florescer, numa tarde de primavera, ela poderia querer ser uma libélula e viver por vinte e quatro horas achando que seria para sempre. Seria feliz.

Ia ser legal ser o filho de Deus, ou sonhar em ser artista, pintor de obras renomadas. Quem sabe até um filósofo? Poderia ser risonha. Dançarina. Já pensou? Mostrar a alma em movimento para uma multidão? Seria demais! Seria feliz.
Ah, aquela mulher poderia querer ser a secretária de um executivo charmoso, assim, poderia querer ser sedutora. Ou talvez o contrário. Quem falou que ela não poderia ser uma santa? Ou poderia sonhar em se tornar a rainha dos baixinhos. Ou a diva do carnaval. Seria feliz.
Não sei. É que eu estava aqui olhando, e pensando que aquela mulher poderia ser tanta coisa. Ela poderia querer ser rica, ou ser a mendiga que não percebe que está incomodando. Poderia ser maníaca por sexo. Ou poderia querer passar a vida querendo manter a virgindade. Ela poderia ser contadora de piadas, cantora de boteco, motorista de moto-táxi. E ganharia dinheiro. Seria feliz.
Olha, ela poderia mesmo ser atriz, modelo. Mas também, poderia querer ser revolucionária, profissional do mês, ou a babá daquela criança linda de cabelo enroladinho. Poderia querer ser índia. Andar por aí nua, imagina a sensação? Imagina que delícia se ela pudesse sair por aí nua? Seria feliz.
E tem outra coisa! Como já disse, ela poderia ser feliz demais, sorridente demais. Mas, aconteceu um engano! É, ela não quis nada disso. Veja só o que aconteceu... Dentre tudo isso que ela poderia querer ser, dentre todas as opções, ela escolheu ser amada, e não foi. É. Não foi amada, não teve sinceridade, não recebeu o carinho que desejou receber. Não conseguiu engolir o choro. Não conseguiu cumprir o “nunca mais” que repetiu, para si mesma, bem baixinho, enquanto a garganta doía de raiva. E sabe o que aconteceu? Justo ela, que seria feliz, não foi feliz, não. Por que escolheu errado. Que ironia né?

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