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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Reflexões na laje do bar


Tenho escutado umas músicas francesas, o som catarrado do “r” me encanta. Pago por três músicas no “bar mais ou menos”, mas coloco 14 músicas: uma mistura de letras que devem ser da época de pessoas com o triplo da minha idade. Mas essas pessoas estão atoladas com a menopausa, ou com a falta de sexo, ou com o marido que deve está com outra, ou com a gostosa que está interessada nele mesmo ele sendo TRINTA anos mais velho – ual, ele acha o máximo, não conhece o amor, não reconhece que ela não é só mais uma gostosa... Percebo que todos esses cantores que escuto já morreram, será que eu estou sobrando no mundo? Ah, que grande besteira. Alguém grita que a máquina “engoliu” os créditos de Sicrano, dou um gole na menta e continuo aproveitando as boas canções.
A garçonete com os olhos mais lindos que já vi me pergunta o que é que vou beber, mesmo sabendo que eu sempre direi que quero “a cerveja mais barata que tiver aí”. O cara da mesa de sinuca pergunta meu nome, digo a ele para não esquentar com meu nome, não quero sua amizade. Ele insiste e se apresenta. Algo como Guilherme, Mateus, Jorge... não faço a mínima idéia. Noto que ele me olha cinco vezes a cada tacada, e então decido ir para a laje. Chamo duas meninas para subir, e imagino que as duas juntas devem pesar 300 quilos. Enquanto eu, com minhas pernas leves e cintura fina, peso 50 quilos quando estou de férias e como compulsivamente.
Falando em compulsivamente, penso nas coisas que faço às vezes sem poder evitar. É engraçado como bebo água rapidamente e em grande quantidade enquanto tenho conversas desagradáveis, enquanto estou entediada ou enquanto estou disfarçando. Sempre penso que as pessoas em volta devem imaginar que não tenho água mineral em casa. Mas, o que ninguém sabe é que não dou a mínima para a opinião dos outros. Além disso, tenho mania de dizer às pessoas que me ligam que eu vou desligar o telefone, e depois fico pensando se elas se chateiam com isso.
Eu costumava conversar mentalmente com os cachorros da rua quando saía de casa de manhã e por conta do horário de verão ainda estava escuro. Para cachorros com cara amigável eu sempre dizia: vem comigo até o ponto de ônibus. Para aqueles grandes e amedrontadores eu costumava pensar algo do tipo: sai fora, eu sei me defender. A verdade é que sempre que um cara estranho me olhava eu fechava os punhos e fazia questão de mostrar que queria ser tão amiga dele quanto do cara da mesa de sinuca.
As duas gordas não quiseram subir – com todo o respeito, adoro pessoas acima do peso, tenho uma louca atração por caras que pesam mais de 80 quilos-, e fico pensando que a noite está predestinada à solidão. Ninguém para conversar, estão todos muito ocupados, muitos preocupados e muito tristes com outras coisas. Eu deveria ter ligado para alguém e dito algo como: to cansada, to precisando de você. As pessoas gostam de quando a gente precisa delas, o ruim é que depois disso meu bem, digo, de você precisar delas, adeus. Você terá seu humor, seu sorriso, e seu bem estar dependente de quem depositou tanta confiança. Acho que é por isso que não gosto de olhar no fundo dos olhos de quase ninguém... É para não correr o risco de acreditar que aquela pessoa possa vir a ser algo que eu precise, certo dia, na laje de um bar no qual a garçonete tem olhos belos, e fuma um cigarro escondido de vez em quando, no banheiro dos homens, eu reparei.
Reparei mais, reparei que as ruas estão cheias de gente vazias, as mentes estão vazias, tem pouca gente se preocupando com o que diz aquele livro maravilhoso, tem pouca gente gastando seu tempo para dizer ao outro: ei, se cuida, com todo o cuidado. É por isso, talvez, que as pessoas andem tão  melo-deprimidinhas-em-seus-quartos-bagunçados. É que ninguém se preocupou. Então, tá. Vou voltar lá embaixo, dizer para o cara da sinuca que foi um prazer tê-lo conhecido. Dizer para a garçonete que hoje eu quero o drink mais caro, e por fim, ir pra casa se importar com alguém bem amável, que vai me tirar o sono a noite inteira, que me tira os melhores pensamentos do mundo todo. Gordas, vocês são lindas, penso em dizer. Mas elas não se importam com minha opinião, fico feliz por isso, faz bem não se importar com metade dos pensamentos que as pessoas fazem questão de ter sobre nós. Então dou passos curtos pela rua, pensando em como seria louco poder olhar a lua sem pensar em mais nada, além da bela e clara lua. 

Um comentário:

  1. Olá, Paôla!!!!

    Quem é rainha (não errei não!!!!)... nunca perde a majestade!!!! Beleza de texto!!!!
    Parece até que estou assistindo a um filme sobre a vida de uma garota que está... "Pê da vida" e, até com a intenção de se matar levando consigo mais... vejam só, duas baleias, não é???? Claro, que é!!!! Pois, subir numa frágil laje acrescentando uma massa de 350 kg em uma área reduzida... é melhor gritar: "SAI DE BAIXO"!!!!!! KKKKKKKKKK!!!!!!!!!

    Muito bom, minha musa!!!! Não é de hoje nem de... agora, que eu lhe lanço elogios para te, que és muito bela e, para esse teu Dom de escrever prosa e poesia!!!! É muita belezura juntas e... parabéns, pelo conjunto da obra!!!! Por favor, continue, que eu cuidarei de polir mais um pouco, a bela e clara Lua, para lhe trazer mais inspirações!!!!!

    Um abraço!!!!!




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